É natural que valorizemos o que é útil, mas será que o inútil é assim tão descartável? Por vezes tem de ser. Por exemplo, perder 30min a mexer um dedo pelo écran do teu smartphone por navegares no mural do Facebook pode levar-te a questionar – “já passaram 30min?” – quando poderias ter usado esse tempo em alguma coisa mais útil e com um efeito mais produtivo. Por exemplo, escrever um pouco naquele livro que sonhas publicar, ou arrumar algo em casa que há muito tempo está por fazer.
Quando me refiro ao inútil com valor, não estou a pensar neste tipo de coisas inúteis que exigem pouco de nós e são sinal de procrastinação. Refiro-me antes a momentos em que estás simplesmente parado e olhas a paisagem diante de ti. Momentos de espera numa fila ou no trânsito. Momentos em que te sentas, fechas os olhos e nada fazes. Momentos em que escutas os outros a contar os seus pensamentos, histórias, ideias. Momentos incertos que perdes com coisas que não sabes se algum dia irão, ou não, contribuir para o bem de alguém, ou de ti mesmo.
Momentos que, aparentemente, são inúteis. Mas, se reparares bem no tipo de exemplos que dei, o traço comum está em serem momentos de pausa. Não é essa a sensação que os momentos de pausa nos dão? Excepto os que usamos para descansar, penso que valha a pena valorizar mais alguns momentos de pausa.
Pausa como sinal de simplicidade
Os momentos de pausa são momentos de vivência de um certo “nada.” Mas, ao contrário do que possas pensar, são esses momentos de alguma nulidade, silêncio e inutilidade que trazem alguma simplicidade à tua vida.
Se estamos sistematicamente preocupados com o que é útil, perdemos a oportunidade que advém da simplicidade dos momentos inúteis. Por vezes, são esses o prelúdio das grandes ideias e feitos. Pensa que foi Einstein que previu em 1916 a existência de ondas gravitacionais e só em 2016 (100 anos depois!!) é que foram observadas com instrumentos que levaram muito tempo a construir para garantir uma medida de algo tão ínfimo como uma onda gravitacional. Quem não terá pensado na utilidade de todo o investimento ao longo desses século…
Pausa com meditação produtiva
No seu livro intitulado “Deep Work”, Cal Newport define meditação produtiva como
aproveitar um período em que está ocupado fisicamente mas não mentalmente, quer seja a caminhar, a correr, a conduzir, a tomar banho, etc., e concentrar a sua atenção num único problema profissional bem definido.
As pausas aparentemente inúteis são os espaços privilegiados para este tipo de meditação. A minha experiência era a de imergir em mais inutilidade ao navegar pelos murais das redes sociais e consultar e-mails, acabando por perceber que, afinal, não havia nada de novo. Começar a fazer meditação produtiva não foi trivial, mas reconheço que significou um passo em frente na valorização do tempo.
Pausa para desfrutar do presente
Com o avanço das novas tecnologias, do acesso cada vez mais fácil e imediato à internet, em vez de termos tempo para o que importa mais na nossa vida (como é sistematicamente anunciado de cada vez que sai um novo modelo de smartphone), cada vez mais nos queixamos da falta de tempo.
O tempo tornou-se um bem mais precioso do que qualquer outro e escasseia. Porém, aqueles momentos de espera, momentos de pausa, enquanto aguardamos por uma resposta, ou simplesmente nos damos conta de que nada temos para fazer, podem ser momentos do presente que valem a pena desfrutar.
Aprender a desfrutar de momentos desses como pausas em que podemos respirar fundo, treinar o desapego da ansiedade e, ocasionalmente, não ter sequer pensamentos. Na prática estamos a dar algum respiro ao nosso cérebro e a ganhar nosso impulso para a criatividade do momento que se segue. Não há nada como experimentar, certo?
Questão: como valorizas os momentos inúteis? Acredito que posso aprender com a tua experiência, basta que a partilhes nos comentários abaixo.