A criatividade é um dos aspectos característicos da nossa espécie que nos permite distinguir de outras no planeta. Não há ser humano que não seja criativo. O que pode acontecer é não desenvolver todo o potencial criativo como desejaria. É para isso que servem as Páginas Matinais.
A autora Julia Cameron ensina há muitos anos como ser mais criativos e uma das ferramentas fundamentais para desbloquear a nossa criatividade que criou foram as Páginas Matinais. No livro onde as introduz, “The Artist’s Way – a spiritual path to higher creativity” define-as como,
”As páginas matinais são três páginas de um fluir consciente estrito, escritas à mão.”
Pretende-se com estas páginas manuscritas exercer uma descarga cerebral que não precisa de ter qualquer sentido, ou nexo, porque se destina apenas à pessoa que as escreve e não devem ser lidas por mais ninguém. Nesse sentido, não há o modo errado de fazer as Páginas Matinais. Não são arte ou literatura, mas apenas o simples acto de mover a mão ao longo da página e escrever tudo o que vier à nossa cabeça.
Diz a escritora Ingrid Bengis que ”as palavras são uma forma de acção, capazes de influenciar a mudança.” Por isso, independentemente daquilo que escrevemos, zangados ou felizes, inspirados ou sem qualquer inspiração, o profundo e o corriqueiro, tudo o que é escrito pela manhã fica entre nós e a nossa criatividade. Por este motivo, afirma Julia, que ”as páginas matinais são a ferramenta principal da recuperação criativa.”
Páginas Matinais como Hábito Diário
Se desejamos verdadeiramente recuperar a nossa criatividade, tão importante para saber aprender seja o que for e inovar, significa que escrever as páginas matinais ou não, não é negociável. Então, na prática, essas devem tornar-se um hábito diário.
Criar um hábito diário implica uma mudança no nosso comportamento. E qualquer mudança de comportamento possui três camadas de acção. De acordo com James Clear (“Atomic Habits”), a camada mais exterior são os resultados, depois seguem-se os processos (onde se desenvolvem os hábitos) e a camada mais interior é a identidade.
Aqueles que se consideram criativos com base naquilo que fazem, criam o hábito a partir dos resultados até terem produzido o suficiente para se considerarem criativos. Depois, existem aqueles que se identificam como criativos, e desenvolvem os hábitos necessários até criarem algo. Este segundo movimento na mudança de comportamente que parte da identidade para chegar aos resultados é o que mais se identifica com o propósito das Páginas Matinais como hábito diário.
Efeitos das Páginas Matinais
O facto de escrevermos tudo o que nos vier à cabeça implica que as Páginas Matinais ensinam-nos a não nos importarmos muito com a nossa disposição de manhã. Se estou mal disposto, escrevo que estou mal disposto e, se quiser, quais as razões. Se não sei as razões, escrevo que desconheço as razões.
Este aspecto possui um efeito importante sobre o desbloqueamento da criatividade, pois, nem sempre nos sentimos na disposição de fazer alguma coisa de criativo. Porém, o ser humano que faz da criatividade uma parte essencial da sua identidade, não depende da disposição para criar.
Depois, quantas vezes não somos criativos por sermos o nosso maior crítico? Estamos, sistematicamente, a censurar tudo o que fazemos – ”Não és suficientemente bom. Outros fazem mais e melhor…” – e isso resulta num tremendo bloqueio ao processo criativo. Com as Páginas Matinais aprendes a não julgar o que escreves, e escreves simplesmente. E se não te ocorre nada para escrever, escreve isso! – ”Não tenho nada para escrever. Estou vazio de ideias. Sou um poço sem fundo. Escuro e amargo.” – e, se quiseres, escreve tudo o que de negativo (ou positivo) sentes até preencher as três páginas.
Há mais de uma semana que comecei a fazer esta experiência e, pelos testemunhos que tenho lido, é um hábito diário que pode fazer toda a diferença. Convito-te a experimentar criá-lo e, se quiseres, usa a FOLHA DE HÁBITO DIÁRIO que criei para ajudar nesse processo.