Não é possível agradar a todos os estudantes nas aulas porque dizem que existe diferentes estilos de aprendizagem. Alguns gostam de teoria e como deduzir conceitos, mas a maioria não. Alguns gostam que façamos experiências, mas outros nem por isso. Pergunto-me, como professor, o que posso eu fazer para chegar à maior audiência possível? Mas também pergunto-te, se fores estudante, sabes porque gostas ou não de deduções, gostas ou não de experiências?

Estilos de aprendizagem

Quando queria compreender por que razão os meus alunos não estavam atentos ou gostavam de deduções, ou o que podia fazer para chegar a uma audiência de estudantes mais vasta e diversificada, encontrei algo sobre estilos de aprendizagem, incluindo serem um tema de investigação. Enquanto lia essa investigação dei-me conta de algo importante: para chegar a uma audiência mais vasta devemos compreendê-la melhor. Devemos pensar mais neles, do que em nós.

 

O mito dos estilos de aprendizagem

Uma das primeiras conclusões dos estudos que li foi os estilos de aprendizagem são um mito. Vários professores universitários assinaram uma Carta Aberta enviada ao The Guardian afirmando isto mesmo. Escreviam,

“Por detrás do que é, geralmente, conhecido como “estilos de aprendizagem” está a crença de que as pessoas podem beneficiar da informação recebida no seu formato preferido, baseada num questionário respondido pelas mesmas. Esta crença é intuitivamente apelativa porque as pessoas são melhores numas coisas do que noutras e, em última análise, poderá haver uma base cerebral para estas diferenças. A abordagem dos estilos de aprendizagem promete optimizar a educação adequando os materiais ao modo preferencial e sensorial da pessoa de processar a informação. (…) Tais neuro-mitos criam uma falsa impressão das capacidades de uma pessoa, levando-a a expectativas e desculpas que são prejudiciais para a aprendizagem em geral, e que nos irá custar caro a longo prazo.

Fonte: Carta Aberta ao The Guardian

De facto, se cada estudante possui um estilo de aprendizagem próprio, e se o professor quiser chegar a esse estudante modificando a forma como ensina, preciso de pouco para saber que seria uma tarefa impossível. Sobretudo quando temos 200 alunos numa sala de aula. Porém, enquanto procurava por mais informação, encontrei uma abordagem que me pareceu útil. Refiro-me à Aprendizagem Experiencial de David Kolb.

No seu livro, David afirma que

“A Aprendizagem é o processo através do qual o conhecimento é criado pela transformação da experiência” (Kolb, 1984, p. 38).

Ou seja, o modo como aprendemos tem muito (senão tudo) a ver com o modo como experimentamos o que aprendemos, e somos transformados por essa experiência enriquecedora. Ele distingue 4 tipos de estilos de aprendizagem que ajudam a perceber os diferentes modos possíveis com que um estudante pode receber a mensagem do professor.

Divergindo

Isto não tem a ver com os romances da Veronica Roth, mas antes às pessoas emotivas e observadoras. Os “Divergentes” são excelentes a fazer brainstormings e a gerar ideias. Eles estão constantemente a usar a sua imaginação para resolver problemas. Observam, recolhem informação e imaginam quais as soluções possíveis. Possuam interesses culturais vastos e preferem trabalhar em grupo, escutar com uma mente aberta e receber feedback.

Assimilando

As pessoas neste estilo de aprendizagem observam e pensam. São pessoas concisas e adoram a lógica das coisas. Para elas, uma boa explicação é melhor do que qualquer experimentação. Adoram deduções porque são atraídas por teorias que fazem sentido e não se interessam particularmente pelo seu valor prático. Na aprendizagem preferem ler, escutar nas aulas, e explorar os modelos analíticos, pensando sobre eles e sobre as coisas. Os “Assimiladores” procuram fazer uma carreira em ciência.

Convergindo

Contrariamente aos “Divergentes”, as pessoas que se inclinam para este estilo de aprendizagem gostam de pensar e agir. Para os “Convergentes” aprender conceitos é útil se forem postos em prática. São atraídos pela parte técnica das coisas e adoram encontrar um fim prático para uma ideia ou conceito. Poderíamos dizer que são pessoas com um pensar de engenheiro e inclinam-se para serem experimentalistas.

Acomodando

Os “Acomodadores” são pessoas que gostam do conhecimento “mãos-na-massa”, “hands-on”, e agem mais com base na intuição, do que na lógica. Preferem usar a análise de outras pessoas e enveredar por uma abordagem mais experimental, como a “tentativa-erro”. Seguem o seu instinto (gut) e agem com base no que esse lhes “diz”, em vez de perseguir uma análise lógica.

Chegar a uma audiência maior

Diante de um grupo de 100 estudantes ou mais, como podemos conhecer uma audiência assim vasta e diversificada? Eu penso que a melhor opção é perguntar. Isso pode ser feito com uma simples sondagem (poll) usando ferramentas como o Socrative que são gratuitas. A questão poderia ser Como gostas de aprender? Baseando-nos na tipologia de Kolb, poderíamos considerar as seguintes opções

  1. Observando e imaginando
  2. Através de conceitos
  3. Através de experiências
  4. Por intuição

A ideia não é catalogar os estilos de aprendizagem dos alunos, mas compreender a audiência diante de nós. Todos os estudantes deveriam desenvolver todos os estilos de aprendizagem. É isso que os torna estudantes completos e futuros profissionais de sucesso. Mais do que sair da universidade a saber fazer, sai-se a saber aprender.

O desafio para os que ensinam é ajudar os estudantes a compreender o valor de serem completos nos vários estilos. Isso implica desenvolver o próprio ensino para a audiência e não esperar que essa se acomode ao nosso ensino. Exige uma mudança de mentalidade.


DESAFIO: O que significa para ti mudar a forma de ensinar?