Na maioria dos adultos, a aprendizagem e o pensamento atingem um patamar que depois declina a partir dos 30 ou 40 anos de idade, acentuando-se após os 60. Este seria o percurso de um envelhecimento normal. No entanto, o que se verifica é que depois do período de educação formal e do trabalho, muitos adultos passam anos, senão mesmo décadas a perder quaisquer oportunidades de continuarem a aprender. E se esta postura representasse algo semelhante a uma “pausa de verão” como as crianças experimentam em período escolar? A maior parte das pessoas é um trabalhdor do conhecimento, e num recente artigo da Scientific American li que deixar de aprender é a razão do retrocesso observado nos adultos. Felizmente, existe uma solução para este declínio.
Num artigo publicado recentemente, um grupo de investigadores demonstrou — «a viabilidade e o potencial de conduzir uma intervenção de aprendizagem de competências do mundo real envolvendo três competências novas com adultos mais velhos.» Neste estudo, os investigadores proporcionaram um ambiente de aprendizagem encorajador para 33 adultos mais velhos entre 58 e 86 anos de idade. Os participantes foram convidados a aprender três novas competências ao longo de um período de três meses. As aulas semanais de duas horas incluíam diversas opções como o canto, desenho, uso do iPad, fotografia, aprender a língua espanhola e composição musical. Ao longo das sessões, as pessoas melhoraram significativamente as suas capacidades cognitivas para memória e a atenção. O estudo revelou que os participantes não apenas mantiveram as competências ganhas, como também melhoraram ainda mais as suas capacidades cognitivas. Após um ano, essas capacidades revelaram-se semelhantes às de adultos 50 anos mais jovens. Aprender rejuvenesce a mente.
A educação formal no período escolar da vida de uma pessoa não é, nem devia ser mais, a única e mais importante forma de estimular a aprendizagem de alguém. Há algum tempo que se tem reforçado a ideia de que, criar ambientes apreendedores enriquecidos para os adultos mais velhos, especialmente para aqueles com poucos recursos, pode aumentar tanto as competências aplicadas no seu quotidiano, como as competências cognitivas a longo prazo.
Se interromper o estilo de vida de quem está sempre a aprender é uma característica comum da vida adulta, estes novos estudos mostram as relevantes implicações de inverter essa tendência. “Usa-o ou perde-o” (Use it or lose it.), diz o ditado. É preciso mudarmos de mentalidade e desenvolver uma nova linguagem que estimule o desejo de aprender porque hoje sabemos como isso pode inverter o declínio que muitas pessoas sente ser o seu desfecho enquanto caminha pelo tempo e vê o corpo envelhecer.
Podemos ser mais criativos e dar prioridade aos aprendizes mais velhos. Ao contrário da ideia que muitos têm sobre o envelhecimento cognitivo, levando os mais idosos a concentrar-se em manter ou aumentar competências mais gerais, como a atenção e a memória, o rumo novo que a investigaçãomais recente apresenta dá maior ênfase à aprendizagem de coisas novas depois que as funções diárias começam a declinar.
Para os que têm tempo ou recursos limitados, incentivar a aprendizagem de novas coisas traz grande benefícios. Na velhice, o objectivo de aprender coisas novas não se destina a poder ter um emprego melhor, ou ganhar mais dinheiro, embora muito reformados tenham essa ideia. O sucesso obtido na aquisição de nova competências em idade avançada serve, simplesmente, para se viver melhor. Por exemplo, fazer um curso para melhorar as capacidades tecnológicas poderia ajudar as pessaos mais velhas a lidar melhor com um mundo cada vez mais digital, ajudando-os a usar plataformas de prestação de cuidados de saúde on-line ou bancos.
A questão não é mais se devemos ou não investir na aprendizagem quando nos tornamos adultos e saímos do período escolar. A questão está em como ajudar a sociedade a compreender a importância de optimizar o ambiente para maximizar as oportunidades apreendedoras. Educadores e cientistas sabem muito sobre como criar esses ambiente para crianças, adolescentes e jovens, mas tornar-se cada vez mais urgente adaptar esse conhecimento para melhorar as oportunidades apreendedoras existentes e desenvolver novos desafios de aprendizagem que sejam úteis e inclusivos para os adultos. As sociedades poderiam fornecer recursos e oportunidades, particularmente para adultos mais velhos que são mal atendidos ou desfavorecidos e, assim, garantir que todos possam beneficiar da aprendizagem ao longo da vida.