Tendemos a ver os nossos limites como um aspecto negativo que nos desmoraliza e desentusiasma. Mas… e se eu te dissesse que os nossos limites são a fonte da criatividade?

Limites em sala de aula

Há uns anos tive um aluno de Mestrado que demorou dois anos a fazê-lo. Quando é suposto fazerem o grau em um semestre, dois anos é muito tempo. Mas ele tinha uma limitação. Era um certo défice de atenção que procurava ultrapassar com inteligência. Apesar de ter demorado esse tempo a fazer a tese, na discussão, disseram-lhe que tinha ali dois anos de doutoramento. Dizerem-lhe isso significava que ele tinha feito algo de inovador e criativo, pois são essas as características que deve ter um doutoramento.

 

A potência criativa dos limites

Lembrei-me desta história porque de cada vez que encontro um aluno desmotivado, parece-me que ele sente o peso dos seus limites e tem dificuldade em superá-los. Foi aí que me cruzei com a experiência de John Spencer que tem explorado a potência criativa dos limites.

Na sua TED Talk sobre a potência criativa dos limitações – apesar da filmagem não ter muita qualidade – percebemos como os limites são uma condição essencial para ser mais criativos. Ele refere o exemplo dos grandes chefes de cozinha que escolhem aleatoriamente um número reduzido de ingredientes e procuram realizar um prato inovador.

Um ponto central do seu argumento é o de olhar para a criatividade como pensar “out-of-the-box”, fora da caixa, quando diante dos limites, talvez a solução esteja em pensar na caixa de modo diferente.

Dos limites que podem ter influência sobre o teu desempenho académico, ou profissional, existem três que tenho notado serem mais frequentes. Limites como procrastinar, distrair facilmente ou desconcentrar, e o limite de não perceber logo o que te dizem. Alguns optam por resignar-se aos limites que têm e esperar que um dia a coisa se resolva. Mas o desafio que proponho é a reconhecer os limites que tens e usá-los para despertar em ti a criatividade.

 

Limite da procrastinação

A procrastinação está muito ligada com o nosso cansaço, ausência de entusiasmo pelas coisas, menor capacidade de organização e tender a não cumprir aquilo que planeamos fazer. Procrastinar é mantermo-nos na zona de conforto até que a necessidade aperte e nos obrigue a fazer o que devemos. Mas isso até nem é mau.

Uma das razões mais importantes para os aviões não cairem são os sensores que enviam diversos tipos de informação aos pilotos. A procrastinação pode servir criativamente de sensor do conforto.

Quando procrastinamos é sinal de estarmos numa zona de conforto. Logo, ter consciência de procrastinar informa-me da necessidade de sair dessa zona. Como uma lagosta. Se não sair da casca (a sua zona de conforto) não cresce (ver video).

 

Limite da desconcentração

A desconcentração possui uma faceta interior. É a que nos leva a divagar no pensamento, de tal modo que nem nos damos conta do tempo passar. Já te acontenceu? Damo-nos conta de que estávamos desconcentrados quando experimentamos algo como o despertar de um sono de olhos aberto. Isso acontece com mais frequência quando realizas apenas uma actividade mental, sem actividade física.

Mas existe também a desconcentração exterior. Quantas vezes consultamos o telemóvel quando devíamos estar atentos? Passei por esta situação várias vezes até que decidi mudar e usar antes o telemóvel para me ajudar a não distrair. Por exemplo, através de aplicações dedicadas a focar ou usando-o para escrever/ditar ideias que surgem e não quero perder, lembretes urgentes, ou ainda actualizar a lista de tarefas.

Usa criativamente a desconcentração como sensor da necessidade de te focares no momento presente e escreve algures a razão de estares desconcentrado. Com isso, não só melhoras a percepção daquilo que te desconcentra, como realizas uma actividade física (escrever) que melhora a concentração.

 

Limite da incompreensão

No outro dia assisti a alguns alunos que tiveram dificuldade em passar uma ideia para linhas de código na disciplina de Programação de Computadores. O que me impressionou foi a expressão de impasse e de incompreensão espelhada na sua face.

O limite da incompreensão é um sensor excelente daquilo que é necessário anotar para melhorar. O que não compreendes é o que deves anotar. Nem que seja, por exemplo, “como meter a ideia A em código?”

A melhor forma de aprender é duvidar e a incompreensão é o limite melhor para saber especificar o que duvidamos. Usa-a criativamente.


Questão: tens experiência de outros limites que tenhas usado criativamente para melhorar a aprendizagem?